Musicais e Ações Sociais: a combinação que a sociedade precisa

Por Communicare

Como a arte atua e enriquece projetos humanitários

Por: Bruna Garcia

Com a influência europeia, o teatro musical chega à América no século XIX e avança desde então. A Broadway é o grande exemplo de sucesso. No Brasil, a cidade de São Paulo concentra a grande maioria das produções, no entanto, o município de Uberlândia revela um lado para além da arte: iniciativas de caráter social que levam o acesso à cultura artística para comunidades carentes. 

“Tons de Milton Nascimento” – Art In Cena – Teatro Municipal de Uberlândia

“Diga sim à arte que é a vida”

    Em entrevista, a idealizadora do “Diga Sim” – Isabela Bittar Maneira – diz que já era professora de teatro de jovens e muitos pediam que as aulas fossem de graça. Com isso, buscou informação, estudou as leis de cultura do estado e montou o projeto sociocultural para inscrevê-los. Ela conta que foi de porta em porta nas empresas conseguir patrocínio e quem acatou foi o Instituto Educacional Algar. Além das aulas de teatro, dança e canto, eram disponibilizados transporte (passes de ônibus), alimentação, figurino e cenário gratuitos para os integrantes, assim como o próprio ingresso do espetáculo. 

       “Foi um projeto incrível, foi algo muito rico, de ganho para todos os lados e para o resto da vida”, afirma Isabela ao relatar que muitos seguiram carreira na área e saíram da zona de risco e sem oportunidades para se profissionalizar, uma vez que já eram artistas completos. A diretora também aponta a importância da ação para a cidade: valoriza a cultura local e emprega os profissionais artísticos da região, além de dar abertura e incentivar os futuros talentos. No ano seguinte, em 2018, a edição do projeto e apresentação do mesmo musical ocorreram na cidade de Araxá-MG, porém com equipe e jovens diferentes. 

“Diga Sim – O Musical” –  Teatro Municipal de Uberlândia – 2017 

“As artes simbolizam mecanismos de transformação” 

       Maria Benigna – educadora e criadora do grupo vocal “Art In Cena” – fala que sua inspiração surgiu na infância, de suas vivências com a arte e com sua mãe, que era musicista. Anos depois, participou de um encontro de couro cênico, o qual a marcou e a fez perceber que era esse sonho que tinha de realizar. Em 2003, trabalhando em um conservatório de Uberlândia, trouxe a proposta do grupo cênico musical em parceria com amigos profissionais da região para montar uma equipe especializada e de respaldo. “O objetivo principal é o desenvolvimento integral do ser humano, o musical vem como uma consequência do processo”, afirma e fala sobre os relatos dos alunos que se beneficiam, se libertam e transformam suas vidas a partir dessa experiência. 

    A diretora do projeto conta sobre o trabalho inovador elaborado no conservatório à cidade, o qual passou a ter uma proposta de homenagem a grandes nomes da Música Popular Brasileira e ampliar o acesso ao gênero. A ação social requer bastante disciplina e dedicação por parte dos integrantes e conta com oficinas e preparações, conjugando todos os tipos de linguagem. As apresentações acontecem tanto em teatros consagrados, quanto em espaços alternativos, já as entradas são gratuitas ou a preço popular, fator que não delimita o público e torna o espetáculo acessível à população. Maria também aponta que os musicais receberam incentivo do Fundo Municipal de Cultura – em 2019 – e de outros apoiadores em anos anteriores. 

“A magia dos anos 80” – Art In Cena – Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli – 2019 

O espetáculo não pode parar 

     O gênero teatral se expandiu ao longo dos anos e seu desenvolvimento fez com que se tornasse um negócio lucrativo, o qual, além de fomentar a cultura, contribui para a geração de variados empregos, seja de forma direta ou indireta. De acordo com uma pesquisa recente realizada pela Faculdade Getúlio Vargas, os espetáculos devolvem à economia aproximadamente o dobro do recurso captado para a montagem e produção, o qual nem sempre cobre os custos totais de um grande espetáculo. Porém, na atualidade, esse ramo não recebe o incentivo governamental necessário.

     A  Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet, que contribui para a realização de milhares de projetos culturais no país, sofreu reformulações no ano passado – 2019 – diminuindo o limite de captação em pouco mais de 80%, o valor foi de 60 para 10 milhões de reais. É válido ressaltar que além de inscrever o projeto e esperar a aprovação, há exigências quanto a porcentagem de ingressos que devem ser reservados para fins específicos: desde entradas gratuitas até os destinados aos patrocinadores – pessoas físicas ou empresas. 

    Por fim, no mesmo ano, a Sociedade Brasileira de Teatro Municipal foi criada diante de um cenário crítico com uma possível crise. O intuito era unir a classe artística em prol de um objetivo em comum: preservar e perpetuar a arte do teatro musical. 

  “Diga Sim – O Musical” –  Teatro de Bolso do Mercado Municipal – 2017