Como os filtros de Instagram impactam na autoestima

Por Communicare

Por Isabella Vasconcelos

Os filtros do Instagram, que começaram de forma divertida e inofensiva, estão diminuindo a autoestima de usuários e propagando um padrão de beleza inalcançável

Os filtros para fotos e vídeo começaram com o Snapchat. Na época, eles tinham a intenção de serem divertidos e permitiam se fantasiar de animais ou vomitar um arco-íris. Atualmente, com a ascensão dos stories do Instagram, os filtros ganharam outro papel. Apesar de ainda existirem filtros divertidos, agora os filtros transformam completamente o rosto e peles dos usuários, contribuindo com a propagação padrões de beleza e a busca por estéticas inalcançáveis, principalmente por mulheres. 

Mariana Mendes é uma digital influencer mineira com uma pinta no rosto. A maneira leve e natural que Mariana lida com sua marca de nascença fora do padrão de beleza faz com que seus seguidores se identifiquem. Assim, Mariana estimula a diversidade, o amor próprio e a aceitação de seus corpos e marcas.

Para ela, os filtros podem ter um impacto negativo na vida dos usuários porque faz com que ele compare suas características com filtro e sem filtro. Além do aumento do número de pessoas utilizando o filtro, o usuário começa a interpretar isso como normal. “Esse tipo de filtro que modifica muito o rosto afeta muito a autoestima dos usuários, principalmente de nós mulheres, pois eles encaixam nossos rostos em padrões. Além disso, estimula a procura por procedimentos estéticos porque você se vê daquele jeito (com filtro) e vê outras pessoas desse jeito. Então, você quer ser assim para ser aceita e se submete mais e mais a procedimentos estéticos.”

Mariana usando o próprio filtro que pode ser acessado aqui. (Foto: Reprodução/ Instagram)

Lauryn Fonseca tem 21 anos e é usuária frequente da rede social Instagram. Ela declarou que desde que criou a atual conta na rede só postava fotos e vídeos usando filtros. Então, em junho deste ano, encontrou uma publicação problematizando o uso dos filtros. Sendo assim, questionou o próprio uso de filtros e propôs para si mesma que durante uma semana não usaria nenhum tipo de filtro para entender como isso impactava na sua autoestima. 

O período sem filtro ajudou Lauryn a se enxergar como uma mulher bonita também naturalmente e deixou evidente que o uso exagerado dos filtros estavam contribuindo para uma queda na sua autoestima. “Quando eu usava filtro, eu me sentia próxima da perfeição. Os filtros que eu usava negligenciaram meus traços negróides, socialmente tidos como grotescos e feios, e me aproximava de um traço mais fino para o meu nariz, boca mais preenchida, uma cor de pele mais clara. Quando me propus a fazer a pausa de filtros por uma semana, foi libertador para mim. Eu me olhei no espelho e me enxerguei de novo, falei ‘Eu sou bonita sem filtro também. Hoje eu me vejo como uma mulher bonita sem filtro, do jeito que eu sou'”.

Story de Lauryn com filtro. (Foto: Divulgação/ Arquivo pessoal)

Story de Lauryn sem filtro. (Foto: Divulgação/ Arquivo pessoal)

 

Então, qual o lado positivos dos filtros?

Além dos filtros que semelhantes aos primeiros, como formas divertidas de aparecer na internet e que deixam claro que estão presentes, há outros avanços nessa perspectiva. Mariana apontou que alguns filtros conseguem ajudar na autoestima, ela coloca como exemplo o próprio filtro que reproduz sua marca de nascença em qualquer pessoa. Dessa forma, resultando na identificação tanto da Mariana quanto em outras pessoas com marcas de nascença e seus familiares. “Eu acho que a pessoa se vê mais parte do meio. Por exemplo, uma mãe que tem um filho com uma marca de nascença usou o meu filtro, a criança se viu na mãe e em outros familiares”. 

Lauryn também apontou outro avanço em relação a isso. “Hoje tem certa democratização dos filtros, tem muita mulher preta desenvolvendo filtros especificamente para pele negra e que não apagam nossos traços.”