AlRawabi School for Girls levanta questões já conhecidas do público sob novo olhar

Por Communicare

Série jordaniana original da Netflix fala sobre bullying e misoginia enquanto apresenta a cultura árabe sem condená-la à visão ocidental

Por Júlia Barduco

A trama segue alunas do ensino médio de uma prestigiada escola particular só para garotas. Cansadas de um bullying intenso causado pelas meninas populares, um grupo de jovens excluídas decide bolar um plano de vingança para acabar de uma vez por todas com qualquer violência dentro da escola.

A sinopse de Alrawabi School for Girls certamente soa familiar para qualquer ouvinte bem treinado em cultura pop. A nova série da Netflix é como uma Mean Girls muito bem construída, com elenco feminino de peso, enredo de tirar o fôlego e equipe de produção inteiramente feminina.

O drama apresenta temas amplamente debatidos nos circuitos de entretenimento ocidentais, mas raramente tratados na mídia árabe. O bullying e o sentimento de vingança deixado por ele, a misoginia nos ambientes familiares e o elitismo são apenas alguns dos assuntos tratados na série, que se passa na capital da Jordânia, Amã.

Da esquerda para a direita: Rania (Joanna Arida), Layan (Noor Taher) e Ruqayya (Salsabiela A), as vilãs da série. (Foto: Reprodução | Netflix)

Já no primeiro episódio da série, composta por seis deles, Mariam (Andria Tayeh), a protagonista, é atacada pelas costas no estacionamento da escola por três garotas populares, Layan, Rania e Ruqayya. Mariam é empurrada para o chão e bate a cabeça. Enquanto o sangue escorre do ferimento, suas agressoras fogem correndo, deixando Mariam inconsciente.

Segundo Mariam, que narra sobre a cena da agressão, a escola era o seu lugar feliz: “A vida era boa. Mas não mais. Agora, a escola é meu pesadelo. ”

A partir daí, Mariam eventualmente se junta à nova aluna Noaf (Rakeen Saad) e à melhor amiga Dina (Yara Mustafa) para traçar um plano e se vingar do trio.

Dina, Neuf e Mariam montando seu plano de vingança. (Foto: Reprodução | Netflix)

Ao longo da trama de vingança, as escritoras do programa exploram os impactos do bullying nas crianças e, brevemente, nos adultos. Nos últimos anos, a violência escolar e o bullying passaram a ser analisados ​​na Jordânia e em todo o Oriente Médio.

Na série, os impactos do bullying afetam cada personagem de maneiras diferentes: desde fofocas tóxicas e piadinhas maliciosas, até instâncias “menos aparentes” de bullying entre irmãos e entre a equipe administrativa da escola, o que culmina em um incidente final que prova que Mariam, Noaf e Dina não são as únicas vítimas do ambiente hostil da escola. Na verdade, a linha entre a vítima e o agressor é borrada várias vezes ao longo do drama, lançando uma luz sobre a natureza complexa do bullying. 

Sem retratar a Jordânia ou seus vizinhos do Oriente Médio como países atrasados ou extremamente conservadores (como muitas séries ocidentais fazem quando falam da região ou de personagens muçulmanos), Alwarabi investiga micro agressões, masculinidade tóxica e expectativas sociais que as jovens encontram em suas comunidades de forma que qualquer brasileira possa se identificar. As imagens na tela não são excessivamente desagradáveis ​​e são amplamente reconhecíveis sem fazer acusações a nenhum dos personagens ou à sua cultura e religião.

Não fosse pelo bullying, o espectador se pergunta: essas meninas poderiam ser amigas se tivessem a oportunidade de discutir abertamente os problemas que enfrentam em casa e na sociedade?