Bridgerton: Segunda Temporada

Por Communicare

Temporada tenta apresentar foco maior nas relações emocionais entre os personagens do que a anterior

Por Anna Franco

Personagens da segunda temporada em cena

Foto: Reprodução Netflix

aseada nos romances de época escritos por Julia Quinn, a série produzida pela Netflix e batizada com o mesmo nome da saga literária conta a história dos oito irmãos Bridgertons em busca do amor, felicidade, e até um pouquinho de diversão, na alta sociedade londrina. 

Seguindo a mesma dinâmica dos livros, a série, até então, separou uma temporada para o protagonismo de cada irmão. A primeira temporada, lançada no final de 2020, focou no desenvolvimento do romance entre Daphne e Simon – equivalente ao livro O duque e eu – apresentando algumas alterações no enredo da ficção que foram de fato proveitosas. 

Algumas das adaptações, que de forma primorosa, auxiliaram na construção do universo foi a utilização da famosa colunista de fofoca Lady Whistledown para ditar os rumos tomados pela história;apesar de na literatura essa personagem possuir um papel relevante; sendo que todo capítulo inicia-se com um trecho de seus folhetins, ela apresenta-se apenas como uma comentarista dos eventos ao contrário do que acontece nas telas onde ela dita os próximos passos.

Vale ressaltar ainda que esse feito só foi possível após a adição de um novo elemento incrível no universo: a rainha de Londres, e a sua nomeação do diamante da temporada.

Ademais, outros aspectos distintos dos livros chamaram a atenção e agradaram grande parte dos telespectadores como: a diversidade racial do elenco, a atenção dada a alguns aspectos culturais de cada figura racializada e, também, a utilização do instrumental de músicas contemporâneas que possuem letras que se relacionam com o momento vivenciado pelos personagens 

Essas foram ótimas adaptações do conteúdo literário e geraram uma melhor ambientação do universo explorado. Contudo, na segunda temporada embora mantenham essas boas alterações,a direção tomou um rumo desastroso com a construção do romance entre Kate e o irmão Bridgerton mais velho, Anthony.

A produção do show decidiu por reduzir as cenas de sexo no conteúdo da série a fim de desenvolver melhor as relações interpessoais dos personagens, o que é sim uma decisão boa, entretanto, foi uma tentativa muito mal executada. 

Diferentementedos livrosa sérieinsere uma rivalidade feminina entre irmãs que é absurda e faz com que toda a mensagem de amor e apoio incondicional que as duas passam no mundo literário seja perdida na adaptação. Além dessa alteração revoltante, o desenvolvimento entre o casal principal é totalmente comprometido pela inversão da ordem dos eventos e a suavização de alguns momentos extremamente importantes.

No livro, a compreensão mútua do casal a respeito dos processos de luto que cada um viveu após a morte dos pais é o que fortalece a relação entre eles. Nesse sentido, na obra literária, as cenas mais importantes para esse desenvolvimento são a cena na biblioteca – em que Kate entra em uma crise de pânico após o início de uma tempestade de raios e é confortada por Anthony – e a cena da picada de abelha – que resulta no noivado dos dois personagens, ambas remetem a situações na qual ocorreram o falecimento dos pais do casal.

Enquanto isso, na série essas cenas são banalizadas de uma forma ridícula, a crise de pânico de Kate torna-se apenas um leve susto com o barulho de um trovão e a picada da abelha é apenas um momento fofo entre os dois. Dessa maneira,o trauma em toda essa experiência é demonstrado de forma muito rasa.

Ao sair do enredo principal do casal protagonista,outras alterações como a relação entre Eloise, uma das irmãs da família principal, e o trabalhador da tipografia e a descoberta da identidade de Lady Whistledown deixam uma incógnita a respeito de quais rumos serão tomados na próxima temporada e se a ordem de protagonismo dos irmãos será seguida de acordo com os livros.

A série não é uma produção ruim, ela é na verdade, muito divertida, envolvente, cumpre a promessa de entreter o público e é inovadora de uma maneira muito positiva em vários aspectos. Contudo, as escolhas feitas principalmente na 2ª temporada quanto ao desenvolvimento do enredo são bastante questionáveis.final, não cumpriram com a proposta inicial de focar nas relações emocionais e, além disso, fatores importantes estão sendo perdidos na adaptação, o que pode ser muito frustrante para aqueles que tiveram a experiência prévia da leitura.

Resta-nos, assim, apenas esperar pela próxima temporada para que seja possível compreender se a essência da família Bridgerton será de fato perdida ou se a história, de alguma maneira, voltará aos seus sentidos originais.