“Red: Crescer é uma fera” e a importância de abraçar seus sentimentos
O novo filme da Pixar lançado em fevereiro de 2022 aborda assuntos que encantam não só as crianças, abrangendo todos os públicos ao passar um retrato autêntico sobre crescer e abraçar os sentimentos.
Por Ana Clara Thommen

Meilin, a protagonista de “Red”, e sua forma panda-vermelho
Foto: Reprodução Pixar
O filme “Red: Crescer é uma Fera”,da diretora Domee Shi, foi lançado mundialmente no dia 21 de fevereiro de 2022, sendo disponibilizado pela plataforma de streaming Disney+ em março deste ano. A trama conta com grandes nomes como Sandra Oh (conhecida por seus papéis em Killing Eve e Grey’s Anatomy), Maitreyi Ramakrishnan (conhecida por seu papel em Eu Nunca) e Finneas (cantor) na equipe de dublagem, além de vários outros artistas que compõem o elenco do filme e a banda “4Town”.
A protagonista do filme é a pré-adolescente Meilin Lee, uma garota sino-canadense de 13 anos, que mora em Toronto no início dos anos 2000. Logo no começo já somos apresentados à “vida dupla” da garota. Na escola, ela tem seu grupo de amigas, composto por Mirian, Abby e Prya, e juntas elas são fãs da boy band “4Town”. Além disso, Meilin tenta ao máximo ser a filha perfeita para Ming, sua mãe, e ser a estudante certinha que tira notas boas e realiza todas as suas tarefas, sempre em busca do agrado de todos.
Pela superproteção da mãe, Mei-Mei não se sente confortável para abrir seus sentimentos com ela, e esconde por exemplo sua paixão pela banda. Depois de um episódio em que a mãe descobre desenhos da filha com um garoto e a faz passar uma grande vergonha na frente de outros colegas de turma, a garota passa por um momento de não saber lidar com seus sentimentos e na manhã seguinte, se surpreende ao perceber que virou um grande panda vermelho.
Quando toda essa transformação acontece, a mãe de Mei-Mei antes de entender toda a situação, presume que ela está passando por sua primeira menstruação. A abordagem desse assunto em um filme para o público juvenil é um grande avanço, tendo em vista o tabu acerca do tópico que existe na sociedade. Depois de muitos perrengues e desentendimentos, a garota descobre que a transformação de panda não é aleatória, mas sim uma grande tradição de família, que já havia acontecido com sua mãe e outros membros da família.
Mei-Mei e Ming
Foto: Reprodução Disney+
A transformação de Mei em um panda vermelho faz um paralelo também à passagem para a puberdade que acontece nessa época, e como nessa idade os sentimentos podem ser conflituosos e prestes à explodir – não necessariamente transformando a pessoa em um grande panda vermelho, mas fazendo-a questionar tudo o que sabe sobre si mesma, sobre o mundo e sobre as pessoas ao seu redor.
O filme aposta em um vilão que se difere de outras épocas da Pixar: os vilões da vida real. Não há um personagem que seja contra a Mei-Mei durante a trama que “atrapalhe” sua jornada, mas em diversos momentos ela tem que enfrentar suas próprias limitações e medos para evoluir, como o medo de magoar as pessoas que ama e de abraçar seus sentimentos.
De maneira delicada, a história mostra a importância de respeitar seus sentimentos e abraça-los, por meio da representação do grande panda de Mei, que aparece quando ela sente com intensidade – seja sentimentos negativos como a raiva, ou uma explosão de felicidade. Durante sua trajetória, a garota aprende sobre autoconhecimento e a dar voz aos seus sentimentos, ao invés de deixá-los de lado para agradar sua mãe – que também tem seus traumas trabalhados ao longo do filme.
A animação de “Red: Crescer é uma Fera” também se difere de outros filmes da Pixar, tendo elementos de animes e brincando com texturas diferentes durante a história, como pode ser percebido quando as personagens brilham seus olhos ao ver os membros da banda “4Town”, por exemplo.
A banda é uma parte importante e especial da história, com hits chiclete e personalidades únicas, com vários elementos das boybands do fim dos anos 90 e início dos anos 2000. Entre os membros da banda, podemos destacar o cantor Finneas e o ator e cantor Jordan Fisher, que cantam os hits do filme, como “Nobody Like U”.
A diretora Domee Shi e as roteiristas Julia Cho e Sarah Streicher também trabalharam juntas no curta-metragem Bao, que foi o vencedor do Oscar de Melhor Curta Metragem em 2019. O curta aborda o assunto da maternidade superprotetora também e nas duas narrativas, a diretora deixa o público emocionado e reflexivo acerca de suas próprias relações familiares.
Apesar de já ter trabalhado em um curta, “Red: Crescer é uma Fera” é o primeiro filme de longa-metragem da diretora. No documentário produzido pela Disney “O Abraço do Panda: A Fera Vermelha”, é apresentado mais detalhes dos bastidores do filme, em que todas as principais lideranças são mulheres. Conhecemos mais sobre as raízes da história de Mei-Mei, como foi o processo criativo das pessoas envolvidas nessa produção e como elas lidaram com o trabalho em tempos de pandemia.
“Meilin diz que não é como a mãe e tudo bem. E então ela percebe: “Eu sou eu mesma. Eu quero acolher essa coisa que todos os outros membros da minha família tentaram esconder.” Quando ela se torna este panda-vermelho, à primeira vista, ele representa tudo o que ela não quer ser: ser diferente, se destacar e sentir que não consegue controlar a si ou a situação do jeito que ela controlava. Você não pode passar pela vida e se tornar a pessoa incrível que deveria se tornar se a vida não abalar essa sensação de estabilidade. Quando dizemos para acolher o panda-vermelho, acho que isso representa estar bem com essa parte sua. Tudo bem não estar no controle o tempo todo. Tudo bem ser bagunçada. Ser barulhenta. Tudo bem ser notada.” fala a diretora Domee Shi no documentário para a plataforma de streaming Disney+.
Mesclando assuntos sérios com toques de diversão, o filme aborda como Mei-Mei lida com seus sentimentos e a importância de ser fiel à eles, além de mostrar muito de sua relação com a mãe e com as amigas, que acabam sendo seu porto seguro no meio de toda a confusão vermelha que ela está inserida. A amizade das quatro meninas é um dos grandes pontos fortes do filme, ao mostrar como a relação delas é importante para a evolução pessoal de Mei, e como ela se sente confortável em ser quem é de verdade e sem precisar conter seus sentimentos ao lado das amigas.